sexta-feira, 27 de junho de 2014

Saudade Visual

por Viviane Ilha 

Ando com saudade. Talvez até por isso 'meio' carente, caso seja possível! Por aí tenho vontades...de saber como estão, de falar, ouvir, ver e abraçar algumas pessoas queridas do coração. Gente que está longe e outras a três quadras, mas é que temos compromissos e às vezes ficamos no caminho sem ir lá ou receber aqui. E bate aquela saudade visual.  Precisaria ver com meus olhos sem a interferência de lentes, enxergaria meus amigos um pouco desfocados por conta da miopia, mas os veria ao vivo em cores.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Feito


*“Este grande preceito é frequentemente citado em Platão: Faz o teu feito e conhece-te a ti mesmo. Cada um desses dois membros engloba em geral todo o nosso dever, e igualmente engloba o seu companheiro. Quem tivesse de fazer o seu feito veria que a sua primeira lição é conhecer o que é e o que lhe é próprio. E quem se conhece já não toma como seu o feito alheio: ama-se e cultiva-se acima de qualquer outra coisa; rejeita as ocupações supérfluas e os pensamentos...”

*Michel de Montaigne

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Passado


“Meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao meu passado eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo. Que espaço o meu passado deixa pra minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida, unicamente o sabor da minha vida. Acho que eu consegui fazê-lo; vivi num mundo de homens...”

*Simone de Beauvoir

Ser mulher

* “Hoje cedo (...) desejei ardentemente ser a garota que comunga na missa da manhã e tem uma certeza serena... No entanto, não quero acreditar: um ato de fé é o ato mais desesperado que existe e quero que meu desespero pelo menos conserve sua lucidez. Não quero mentir para mim mesma.", "Eu gostaria muito de ter o direito, eu também, de ser simples e muito fraca, de ser mulher...”, “Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.”

Pensares associados, da escritora *Simone de Beauvoir.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Monstros


*”Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta. Não podemos nunca esquecer que os sonhos, a motivação, o desejo de ser livre nos ajudam a superar esses monstros, vencê-los e utilizá-los como servos da nossa inteligência. Não tenha medo da dor, tenha medo de não enfrentá-la, criticá-la, usá-la.”

*Michel Foucault, licenciou-se em Filosofia, na Sorbone. No ano de 1952, cursou o Instituto de Psychologie e obteve diploma de Psicologia Patológica. Com "História da Loucura" (1961), sua tese de doutorado, que se consagrou como filósofo. 

O diploma


*“O diploma serve apenas para constituir uma espécie de valor mercantil do saber. Isto permite também que os não possuidores de diplomas acreditem não ter direito de saber ou não serem capazes de saber. Todas as pessoas que adquirem um diploma sabem que ele nada lhes serve, não tem conteúdo, é vazio. Em contrapartida, os que não têm diploma dão-lhes um sentido pleno. Acho que o diploma foi feito precisamente para os que não o têm.”

Pensamento do brilhante ensaísta *Paul Michel Foucault (Poitiers, 1926 – 1984), filósofo francês.

domingo, 22 de junho de 2014

Feminista


Transcrevo dois interessantes pensamentos da escritora brasileira, Rose Maria Muraro: “Todos vivemos devorados pelo desejo de sermos amados, mas temos um medo enorme de amar” e “Só amadurecem aqueles que experimentam a imensa amplidão da sua vulnerabilidade”. Muraro foi pioneira, no Brasil, do movimento feminista entre as décadas de 70 e 80. Sua personalidade singular e determinada ganhou força e tornou-a uma das mais importantes e respeitadas feminista do nosso tempo. Publicou mais de 40 livros. Ela faleceu no dia 21 de junho de 2014, aos 83 anos.

sábado, 21 de junho de 2014

Inscrição para uma lareira


Hoje, 21 de junho, vivenciamos aqui no sul, o solstício de inverno. Faz frio e tímidos raios de sol atravessam a janela e iluminam o ambiente. Recordo o querido *Mário Quintana. Com sua inteligência e sentimento, nos aquece, inspira e nos dá mais vida através desse simpático poeminha:

*“A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!

Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...”

O maior bem do maior mal


Escolhi esta citação: “A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal” do escritor brasileiro Joaquim Maria Machado de Assis, para comemorar a data de seu nascimento: 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro. Ele foi cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. Faleceu em 29 de Setembro de 1908. Destacam-se entre suas obras: Quincas Borba, Memórias Póstumas de Brás Cubas que foi considerado, juntamente com O Mulato, de Aluísio de Azevedo, o marco do realismo na literatura brasileira. 

No meio do caminho


*”No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.”

No meio do caminho: coincidência ou não, de vez em quando volto a lembrar deste clássico poema de um dos maiores poeta brasileiro *Carlos Drummond de Andrade.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Treze Versos


*“E finalmente pronunciaste a palavra
não como quem se ajoelha,
mas como quem escapa da prisão
e vê o sagrado dossel das bétulas
através do arco-íris do pranto involuntário.
E à tua volta cantou o silêncio
e um sol muito puro clareou a escuridão
e o mundo por um instante transformou-se
e estranhamente mudou o sabor do vinho.
E até eu, que fora destinada
da palavra divina a ser a assassina,
calei-me, quase com devoção,
para poder prolongar esse instante abençoado.”

Versos da brilhante poetisa russa *Anna Akhmatova.

Intermezzo


*“Nem tudo pode estar sumido
ou consumido…
Deve – forçosamente – a qualquer instante
formar-se, pobre amigo, uma bolha de tempo nessa Eternidade…
e onde
- o mesmo barman no mesmo balcão,
por trás a esplêndida biblioteca de garrafas,
fonte de nossa colorida erudição -
haveremos de continuar aquela nossa velha discussão
sobre tudo e nada
até
que, fartos de tudo e nada,
desta e da outra vida,
a rir como uns perdidos,
a chorar como uns danados,
beberemos os dois nos crânios um do outro…
até o teto desabar!”

*Mário Quintana

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Vida


Tanta vida que nos presenteia as canções do compositor *Chico Buarque! Pois, o homenageio pelos seus 70 anos, comemorado hoje, 18 de junho de 2014, com parte de sua canção: "Vida".

*“Luz, quero luz,
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais
Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais”

Assim eu vejo a vida

Por Lislair Leão Marques

*“A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.”

*Cora Coralina, pseudônimo Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889 - 1985) foi uma poeta goiana. Encanta-me sempre, sua leve fluidez do pensar.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Por Lislair Leão Marques

*“Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.”

De *Luiz Vaz de Camões

A Canção da Vida


*“A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...
A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:
Como eu sou bela
amor!
Entra em mim, como em uma tela
de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar
aí...
como um salso chorando
na beira do rio...
(Como a vida é bela! como a vida é louca!)”

Poema do poeta *Mário Quintana

Certas Palavras


*“Certas palavras não podem ser ditas
em qualquer lugar e hora qualquer.
Estritamente reservadas
para companheiros de confiança,
devem ser sacralmente pronunciadas
em tom muito especial
lá onde a polícia dos adultos
não adivinha nem alcança.

Entretanto são palavras simples:
definem
partes do corpo, movimentos, actos
do viver que só os grandes se permitem
e a nós é defendido por sentença
dos séculos.

E tudo é proibido. Então, falamos.”

Poema de *Carlos Drummond de Andrade, (outubro de 1902 – agosto de 1987), escritor, poeta e cronista brasileiro, meu preferido. 

domingo, 8 de junho de 2014

Saúde


*"Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça, para o total. Todos os sucedidos acontecendo, o sentir forte da gente - o que produz os ventos. Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura." 

De *Guimarães Rosa

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Mal


“...perigo de crer que Deus desejasse que o Mal acontecesse, Deus não queria isso, nem tampouco que o Mal não fosse praticado, porém sem querer ou não querer, autorizava a realização do Mal, o que, na verdade, contribua para a perfeição do mundo. Não passaria, no entanto, de aberração asseverar que Deus admitia o Mal em prol do Bem.”

Pensamento de *Thomas Mann, escritor alemão, nasceu em 6 de junho de 1875. Considerado como mestre do romance psicológico. Da sua vasta obra literária, eu li “Morte em Veneza”.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Ser

Por Lislair Leão Marques

*"Se me fosse possível constituir-me a meu modo, não haveria nenhuma forma, por melhor que fosse, na qual eu me quisesse fixar de sorte que não fosse capaz de dela me apartar. A vida é um movimento desigual, irregular e multiforme. Não é ser amigo, e muito menos senhor, de si mesmo, deixar-se incessantemente conduzir por si e estar preso às próprias inclinações que não possa desviar-se delas nem torcê-las - é ser escravo de si próprio.”

Pensamento de *Michel de Montaigne (1533 – 1592), ensaísta e escritor francês.

Confusão

Por Lislair Leão Marques

*“Meu coração
é teu coração?
Quem me reflexa pensamentos?
Quem me presta
esta paixão
sem raízes?
Por que muda meu traje
de cores?
Tudo é encruzilhada!
Por que vês no céu
tanta estrela?
Irmão, és tu
ou sou eu?
E estas mãos tão frias
são daquele?
Vejo-me pelos ocasos,
e um formigueiro de gente
anda por meu coração.”

*Federico García Lorca, (5 Junho de 1898 - 19 Agosto de 1936), poeta e dramaturgo espanhol. Morreu vítima da Guerra Civil espanhola. Este poema foi traduzido por Oscar Mendes, in “Poemas Esparsos”.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Primavera Silenciosa


*“Arriscar tanto nos nossos esforços destinados a moldar a natureza de acordo com a nossa satisfação e a nossa conveniência e, ainda assim, acabar fracassando sem atingir o objetivo seria, na verdade, a ironia final. A verdade, raramente mencionada, mas existente, para ser vista por qualquer pessoa que deseje vê-la, é que a natureza não é facilmente moldável, e que os insetos estão encontrando caminhos para contornar os nossos ataques contra eles.”

Texto do livro “Primavera Silenciosa”, do ano de 1962, da bióloga e escritora *Rachel Louise Carson.

Amar e Ser Amado

Por Lislair Leão Marques

*“Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano,
Beijar teus labios em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante, amado
Como um anjo feliz... que pensamento!?”

*Castro Alves