sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Não há vagas


*“O preço do feijão
não cabe no poema. 

O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

(...)
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira.”

*Ferreira Gullar

Nenhum comentário:

Postar um comentário